terça-feira, 19 de setembro de 2017

SouL

Os registros do passado são as bagagens que levamos. A morada dos registros são nossas memórias que se apresentam em vários palcos da vida. Reviver um passado é viver sua essência.









Reverenciar e honrar o que passou é um ato de amor. Todos os meus tropeços me serviram de alicerce para o ser que me tornei, como gesto de amor e respeito a esse meu passado, resolvi experimentar escrever uma carta para ele e assim entender quem SouL.






E ontem eu tive um sonho, sonho meu, sonho nosso.
Era tudo muito cinza, nublado como os dias chuvosos. Eram poucas as vezes que a aquarela dançava.
O cheiro de lavanda era como o passo dado, não saía de mim, de nós, do nosso triste caminhar.
Não era boneca de pano, mas eu tinha sua doçura e flexibilidade. Acreditava poder ser dona do meu corpo como era dela.
O que era para ser alegria como o raiar do sol, se transformou em tempestade em pouco tempo.
Via-nos correndo por entre os campos, dançava ao som do violão e ali era meu mundo, minha morada, meu aconchego. Me sentia completa por estar entre os meus.
O engano se deu quando a brecha da fogueira rapidamente se fez e meus olhos claros se depararam com a escuridão que iluminou a minha vida.
Não imaginava que a contente dor que ainda se fazia presente em mim se estenderia ao longo de minha breve existência.
Como um flash arrebatador minhas memórias voltaram ao passado e me deparei ao lado daquela linda mulher. Ela segurava as minhas mãos e me dizia que somente o amor seria capaz de me curar. Voltei ao meu estado físico presente com o mesmo alívio que sentira quando estava ao seu lado.
Não entendia os desenhos que minha mente insistia em pintar até a fogueira me fazer enxergar.
Não era minha própria boneca, era boneca de alguém, um alguém que eu admirava, respeitava, temia porque não? O alguém que já estava traçado em minha linha da vida, quem sabe até do amor. Uma aliança feita pelas mãos e pela boca de um passado, passado esse ao qual eu ainda não pertencia.
Eu me via ali, parada como uma estátua, estátua de sal prestes a se desmanchar.
Nesse breve stop que qualquer sonho pode ter, eu conseguia ler a minha mente. Eu não acreditava nessa aliança infantil, ultrapassada, desrespeitosa comigo e com meu destino. Minha aliança era com o mundo, com a liberdade, com a minha alma e com tudo o que ela trazia.
Retornei ao momento da fogueira, ali conseguia enxergar cores, era como se o arco-íris se coroasse e se perpetuasse. A noção de tempo no sonho me parecia ser meses ou até mesmo anos , mas minha noção real ao acordar me deixava sutilmente a idéia de que levou apenas alguns minutos que resumiram uma vida.
O breve resumo de uma história lhe será contado. Minha alma ainda não sabe diferenciar corretamente o bem e o mal nessa história mas ela sabe calcular com exatidão o amor que sentimos quando decidimos fazer a nossa própria aliança.







A fogueira não estava mais parada, ela dançava tanto com suas chamas que parecia querer competir com as lindas saias que rodopiavam ao seu redor.
O claro e o escuro se entreolharam e como Eva no paraíso nós dois juntos decidimos pegar a maçã. Não havia mais saída e decidimos comê-la, pagando o preço dessa vermelha mordida.
Fomos descobertos e na mesma fogueira que um dia dançei, eu chorei.
O cinza, o nublado, a onipresença das cores no início do sonho era o mau do seu final.
Marcamos nosso destino, nossas almas, nossa história.
A maçã que outrora comemos deu fruto, e do vermelho seguido do cinza o céu de azulado se pintou.
O meu alguém continuava ali, a cuidar de mim e do azul que passou a preencher os meus dias.
Adoeci em minha loucura inconsciente e ali lembrei das palavras daquela linda mulher: " Só o amor cura! ".







Acordei ainda vivendo o sonho, abri a fresta da cortina, estava nublado mas lá no fundo eu conseguia avistar as pontinhas do raiar do sol. Subi as escadas, olhei para o céu e agradeci.
O reflexo que se fazia do meu corpo na janela, eu encarei como o reflexo de minha alma. Coloquei minhas mãos sobre o peito, olhei para trás e para todo o meu passado que me auxiliou a chegar até aqui e balbuciei baixinho: "SÓ O AMOR CURA! ".




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