sexta-feira, 3 de agosto de 2018

UM ENCONTRO COM BACO

A felicidade é algo real. Ela está aqui e agora. Ela é presente, ela é divina, ela é sacra.
Experienciar momentos de felicidade é vivenciar o prazer da vida e todas as suas tranformações, é entender a abundância que o Criador nos promove, é presenciar algo terreno se tornar algo dos deuses.






Era dia, a preguiça falava alto e sua sonoridade gritava em minha mente para que eu desistisse. O arrependimento era certeiro mas eu havia dado minha palavra , além da minha conta bancária uirrar em minha cabeça para que eu não escutasse o sermão da falta de vontade.
Levantei da cama, abri meus olhos e espiei pela fresta da cortina. Era mais um  dia de frio cinzento do outono e meu corpo que é melhor amigo da preguiça resolveu escutá-la e voltou para cama. Em um pacto com a mente me vi ali, no meu quarto, enrolada em meu cobertor rosa, lendo um bom livro e tomando um chocolate quente  que há muito não aquece minha boca.
Acordei daquele sonho consciente e sobressaltei da cama. Tinha pouco tempo para me convencer de que estava fazendo a coisa certa. Levantei da cama novamente, tirei algumas roupas do armário , olhei para o relógio, e me vesti tão rápido que nem o bichinho da preguiça foi capaz de me fazer voltar atrás.
O barulho da porta de lá de cima me chamou ao momento presente e me avisou que era hora de partir. Fui a primeira a subir as escadas e fui logo introduzida a Susana, na verdade naquele momento eu desliguei e meus olhos apenas repararam naquele batom cor de rosa barbie e naquele olhar claro como os cristais, foram frações de segundo para que alguma voz me puxasse para a Terra e me lembrasse que nosso passeio começaria assim que o atrasado do meu marido fechasse a porta de casa e embarcasse comigo naquele encontro que seria dos deuses.
O passeio havia começado e resolvi embarcar nele de corpo, alma e paladar. Minha barriga estava vazia mas minha boca estava cheia de saliva com as informações passadas por nossa guia.





Queenstown é uma cidade pequena da Ilha Sul, famosa pelos esportes radicais e eleita um dos mais belos pousos do mundo, também é a cidade dos vinhos. Com 200 vinículas próximas a essa área não era de se estranhar que as uvas da região produzisse uns dos melhores pinot noir que já degustei em toda a minha vida.
A primeira parada foi em uma vinicula chamada Peregrine, que está a aproximadamente 30 minutos de Queenstown. No caminho para a vinícula comecei a relembrar meu passado quase presente e as tantas vezes que passei por aquela estrada que hoje nos levaria ao encontro dos apaixonados. A chuva queria mesmo ser nossa compaheira então decidimos agregá-la em nosso passeio e ela se tornou convidada. Como crianças prestes a abrir seu presente de Natal descemos do carro e fomos andando até a a grande adega . Nesse pequeno percurso éramos sorrisos e brincadeiras e nos entregamos ao prazer que é viver. Ao descermos aquela rampa meu coração acelerou, me tornei a última da turma , parei, respirei fundo aquele ar límpido com cheiro de terra molhada e adentrei aquele portal que nos transportaria para um outro universo.
Fomos recebidos por uma mulher de aparentemente 40 anos, um sorriso jovial e um olhar acolhedor. As taças já estavam expostas no balcão e minha boca outrora cheia de saliva agora estava seca , pronta para ser banhada pela chuva de Baco. Foram mais de 5 tipos de vinhos experimentados e a medida que a degustação acontecia o frio sentido do lado de fora começava a dar espaço para o calor das videiras presentes em cada gole. O panteão grego estava ali a nos proteger mas nossa não sobriedade dava sinal amarelo.










As gargalhadas e brincadeiras dentro da van se tornou presente até o caminho para o segundo portal, em meus lapses de Sarah Cristina comportada eu pensava em não falar tão alto e prestar mais atenção em nossa guia porém a Deusa Ariadne já havia me consumido e eu estava envolta na teia de Baco.
Ao adentrarmos no Wild Earth , nosso segunda parada me deparei com a suntuosidade da Mãe Terra. Minha mente prisioneira daquele estado de prazer me fez filosofar sobre aquela água ora mansa ora feroz que descia daquele rio abaixo de nós . Eramos um só, eu , a água, meus amigos do passeio, a guia, a chuva e aquela ponte que nos separava. O frio voltou a ficar para trás e minha barriga agora sentida depois dos copos de água que me trouxeram a sobriedade, agradecia antecipadamente pelo o espetáculo a seguir. Foram 5 tipos de pratos diferentes, cada um com sua singularidade e emoção. Cada prato era acompanhado pelo seu respectivo nectar dos Deuses. Cada garfada me dava a sensação de estar mais próxima do cheiro das uvas e de suas frágeis raízes que lá fora eram banhadas pela chuva sagrada. O segundo prato , o menos esperado por mim, entrou em minha boca como se fosse acarinhar meu coração e o esperado borrão em minhas papilas degustativas dava espaço a poesia de Drummond.
O cheiro da comida, misturado ao dos vinhos somado a alegria verdadeira do local fez com que meu encontro com os Deuses que habitam em mim se tornasse mais especial e único; pena que era hora de partir porém nossa "epopéia"nos sorria indicando o terceiro portal.












O percurso até a Akarua Wines foi calmo e silêncio, acho que estávamos todos em transe, em meditação profunda, em um estado alfa do prazer. O nosso corpo em compasso com nossa mente faziam movimentos tão sincronizados que por um momento acreditei que éramos uma orquestra sinfônica, tamanha era nossa harmonia. A recepção doce e oriental ao qual fomos recebidos nos presenteou com o primeiro espumante do dia. Sua textura forte mas que descia suave por minha garganta me remetia ao teatro Kabuki e suas lindas gueixas. A sensação foi tão boa que experimentei mais uma taça daquela linda arte e brindamos juntos a vida.
Os prazeres que a vida nos presenteia assim como o próprio teatro da vida, pelo menos dessa, tem hora marcada para acabar. Todos os momentos por mim vivenciados naquelas horas da manhã e do começo da tarde estavam chegando ao fim e como boa leitora que sou não estava nem um pouco satisfeita de virar a última página daquele livro e guardar aquela história para sempre em minha mémoria. Eh...Baco de forma fina e sútil nos ludibriava para que não sentissemos tanto o peso final.








Eram aproximadamente umas duas horas da tarde quando a chave de ouro nos foi entregue. Ela ficava dentro da adega Wet Jaket que mais parecia um galpão antigo com seu revestimento todo em alumínio. Os olhos fortes e marcantes do anfitrião me fazia acreditar que ele estava ali de forma proposital. A simplicidade com que ele falava aliado com sua desenvoltura fazia dele quase que mais um aparato daquela pequena porém suntuosa e aconchegante sala. Minha mente em devaneios enviava mensagens ao meu corpo de uma forma hipnótica e ele obedecia sem pestanejar. Ah! Aquele barulho do elixir percorrendo a garrafa chegando a sua boca de entrada e se atirando sem nenhum pudor naquela taça transparente. A cada medida que esse barulho terminava uma sensação de alegria começava dando passagem a Baco e seus amigos semi-Deuses a festejar conosco .











A festa havia chegado ao fim mas eu continuava ali a segurar aquela taça com o último gole do dia, eu olhei para seu interior e vi aquele Deus Grego a olhar para mim, sim prometi a ele que contaria ao mundo seus feitos e me tornaria uma bacante e em um gesto de agradecimento ele elevou minhas mãos até minha boca e senti pela primeira vez o sumo da uva e de sua fermentação a escorreguer pelo meu esôfago e adentrar minhas células saguíneas anciosas por receber aquele elixir do prazer dentro de mim.




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